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A relevância dos BRICS para o Rio Grande do Sul

Entender e acompanhar sistematicamente a dinâmica das relações entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), assim como a inserção internacional desses países, é importante não somente para a Presidência da República e para o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil. Dadas as relações entre esses mercados e a pauta exportadora do Rio Grande do Sul, compreender os BRICS deve ser, também, tarefa do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

O acrônimo BRIC foi originalmente cunhado, em 2001, pelo economista inglês Jim O’Neill do Banco Goldman Sachs no estudo Building Better Global Economics, em que apontava a influência das economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China sobre o futuro do conjunto da economia global. Na medida em que se confirmavam as projeções sobre os BRICS, outro estudo da mesma instituição financeira, BRIC’s and Beyond, passou a fazer prognósticos econômicos para um grupo de 11 países, que ficou conhecido como o Next Eleven (Bangladesh, Coreia do Sul, Egito, Filipinas, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Turquia e Vietnã).

Ainda que esse enfoque econômico sobre os BRICS siga repercutindo entre os analistas do mercado financeiro internacional, há de se destacar que essa é uma abordagem do mercado em relação a esse grupo de países.

Assim, acredita-se que para melhor compreender o papel e a influência da ação conjunta desses países na cena internacional, de forma mais abrangente, é aconselhável analisar esse grupo de geometria variável a partir do ponto de vista de seus próprios membros.

No campo político e diplomático, em que pesem suas divergências e contradições, os BRICS capitalizaram a expectativa internacional em torno de suas economias para dar início a projetos de articulação política e econômica, assim como a programas de cooperação em áreas sensíveis a esses países: educação, desenvolvimento econômico, energia, segurança alimentar, meio-ambiente, defesa, etc.

A partir da perspectiva da Economia Política Internacional, encontram-se, então, razões que explicam, por exemplo, a participação da África do Sul no bloco de economias emergentes. Embora não tenha o peso econômico dos demais parceiros, a liderança e influência da África do Sul no continente africano e seu peso regional nos diversos fóruns mundiais dariam ao então BRIC legitimidade às demandas e propostas do bloco nos mais variados temas da agenda internacional.

Nesse sentido, tornam-se mais evidentes as razões que levaram os demais parceiros a incluir o país africano ao grupo durante a terceira reunião de cúpula do bloco em 2011. A adição do “S” ao acrônimo BRIC mostra, então, que há uma clara distinção entre a conotação dada por Jim O’Neil no início dos anos 2000 e o sentido que os membros dos BRICS dão ao bloco.

Desde sua primeira reunião de ministros das Relações Exteriores, na Rússia, em 2008, seis Cúpulas Anuais de Chefes de Estado já ocorreram. Em 2014, os BRICS reuniram-se em Fortaleza, no Brasil. Neste ano, o sétimo encontro deu-se no dia 9 de julho em Ufá, na Rússia.

O fato concreto sobre os BRICS diz respeito ao alcance de sua inserção econômica e política nos mais variados temas da agenda internacional. O peso geopolítico de cada um desses países em suas respectivas áreas de influência ao redor do globo, assim como suas ações conjuntas, coloca os BRICS como contraponto ao atual sistema de articulação internacional estabelecido no pós Segunda Guerra Mundial — Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização das Nações Unidas (ONU).

No ano passado, os seis países anunciaram a criação do Banco de Fomento do BRICS com capital inicial de US$ 50 bilhões, que poderá chegar a US$ 100 bilhões. O Banco do BRICS prevê a criação de linhas de crédito para financiamento de projetos de infraestrutura, bem como um fundo para socorrer os países-membros em caso de turbulências financeiras internacionais. Assim, na medida que os BRICS se consolidam como uma realidade na qual o Brasil é um dos protagonistas, cabe à sociedade como um todo, especialmente a gaúcha, compreender toda essa dinâmica.

A característica marcante dos BRICS para o Rio Grande do Sul é o fato de possuírem relevantes mercados internos para os produtos da pauta exportadora gaúcha. Nesse sentido, o Estado do Rio Grande do Sul precisa antecipar-se aos fatos e planejar a melhor forma de incremento da relação das empresas gaúchas com esses mercados. Ainda que parte considerável da pauta exportadora seja de produtos primários, os esforços de cooperação entre os BRICS podem gerar oportunidades aos exportadores de produtos com maior valor agregado que já constam na pauta de exportação do Estado, como calçados, máquinas agrícolas e ferramentas.

As exportações gaúchas responderam por 18,2% (aprox. US$ 18,7 bilhões) do Produto Interno Bruto (PIB) do Rio Grande do Sul em 2014. Desse total, os parceiros dos BRICS representaram 27,23% do mercado para as empresas do Estado (aprox. US$ 5,1 bilhões). A taxa de crescimento médio das exportações para esses países, nos últimos 14 anos, foi de 20,2%, conforme a tabela.

Os BRICS como mercado para as exportações do Rio Grande do Sul (RS) — 2001-14

PAÍSES DOS BRICS MÉDIA ANUAL DA TAXA DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES2001-14 (%) 2001 2014
Valor(US$ milhões) Composição das Exportações para os BRICS (%) Participação no Total das Exportações do RS Valor(US$ milhões) Composição das Exportações para os BRICS (%) Participação no Total das Exportações do RS
Rússia 26,7 86.9 14,9 1,4 353.3 6,9 1,9
Índia 16,9 58.2 10,0 0,9 154.8 3,0 0,8
China 25,4 370.9 63,8 5,8 4.455.0 87,5 23,8
África do Sul 8,1 65.6 11,3 1,0 127.1 2,5 0,7
Total 20,2 581.6 100,0 9,2 5.090.1 100,0 27,2

FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior ― ALICE-Web. 2015. Disponível em: <http://aliceweb.mdic.gov.br/>. Acesso em: 22 jul. 2015.

Ao se analisar a participação de cada um dos países como mercado para as exportações do Estado, tem-se: China (87,52%), Rússia (6,94%), Índia (3,04%) e África do Sul (2,5%). De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2014, aproximadamente 300 empresas do Estado exportaram para China, 200 para a África do Sul, 130 para a Índia e 100 empresas exportaram para Rússia, conforme o quadro.

Destino e valor das exportações das principais empresas exportadoras do Rio Grande do Sul para os BRICS — 2014
DESTINO DAS EXPORTAÇÕES VALOR DAS EXPORTAÇÕES EMPRESAS ATIVIDADADE PRINCIPAL
Rússia Acima de US$ 50 milhões Philip Morris Brasil Tabaco
Rússia Entre US$ 10 e 50 milhões Universal Leaf Tabacos Ltda. Tabaco
Alibem Comercial de Alimentos Ltda. Suínos
Índia Acima de US$ 50 milhões Petrobras Petróleo
Bunge alimentos S/A Alimentos
Índia Entre US$ 10 e 50 milhões Bianchini S/A Soja
China Acima de US$ 50 milhões Bunge Alimentos S/A Alimentos
Noble Brasil Grãos e oleagenosas
Vale S/A Minérios
China Entre US$ 10 e 50 milhões Souza Cruz S/A Tabaco
BRF S/A Alimentos
Epcos do Brasil Ltda. Material elétrico e eletrônico
África do Sul Acima de US$ 50 milhões Scania Latin America Ltda. Caminhões
África do Sul Entre US$ 10 e 50 milhões Souza Cruz S/A Tabaco
Dana Indústrias Ltda. Suspensão e eixos automotivos
FONTE DOS DADOS BRUTOS: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Empresas exportadoras por países e unidades da federação: Rio Grande do Sul 2014. 2015. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br//sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1444&refr=603>. Acesso em: 15 jul. 2015.

Por tudo isso, reforça-se a necessidade de o Governo Estadual defender, de forma institucional, os interesses dos empresários gaúchos (da indústria ao agronegócio) no processo de formulação da política de inserção comercial do Brasil no mundo. No caso dos BRICS, a defesa dos interesses do Estado demanda uma visão estratégica e sistêmica das relações políticas e econômicas no interior dos BRICS e das parcerias que esses países estabelecem com o resto do mundo.