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A análise da economia gaúcha na FEE: centralidade dos nexos externos

Desde a sua origem, a Fundação de Economia e Estatística (FEE) tem como atribuição central a análise das condições sociais e econômicas do Estado do Rio Grande do Sul. O conjunto de trabalhos organizados sob o título 25 anos de Economia Gaúcha, publicado em 1976, tratava da indústria do Estado como “estreita e indissoluvelmente vinculada à economia nacional” (1976, p. 19)[1]. Naquela época, os pesquisadores da FEE investigavam as especificidades do sistema econômico do Rio Grande do Sul no contexto do modelo de industrialização substitutiva de importações em âmbito nacional.

Esse modo específico de industrialização esteve em vigor de 1930 até o final dos anos 70. A economia brasileira enfrentou, por boa parte desse período, restrições externas ao crescimento. Na década de 70, particularmente, o Governo nacional buscava manter as taxas de crescimento e acumulação elevadas, além de criar e/ou elevar a capacidade produtiva em setores considerados estratégicos. Dada a tendência de crescimento dos coeficientes de importação quando a taxa de acumulação é elevada, o desenvolvimento desses setores estratégicos era o modo de compensar esse movimento e elevar o grau de autonomia do sistema industrial doméstico a longo prazo.

O debate sobre a forma específica pela qual a economia do Rio Grande do Sul esteve conectada à brasileira foi sempre muito rico, e as contribuições da FEE, fundamentais. Obviamente que muitas transformações processaram-se desde 1976 até hoje e, portanto, seria um erro dos pesquisadores atualmente dedicados a essa questão aplicar o mesmo esquema analítico adotado pelos pesquisadores pioneiros na instituição. Uma regra metodológica central precisa ser, entretanto, mantida: qualquer análise sobre o que ocorre na economia estadual não pode lidar exclusivamente, ou predominantemente, com fatos, dinâmica e estruturas internas. Em poucas palavras: os nexos externos são fundamentais para a compreensão dos problemas atuais do Rio Grande do Sul.

O breve, mas importante, ciclo de desenvolvimento brasileiro nos anos 2000 somente foi possível devido à expressiva melhora das condições globais, comparadas às que vigoraram nos anos 80 e mesmo nos 90. Por algum tempo, os constrangimentos externos ao crescimento foram sensivelmente relaxados, permitindo ao Governo nacional executar um conjunto de políticas que resultaram em aceleração do crescimento, distribuição de renda e redução dos níveis de pobreza. As diferenças entre as mudanças estruturais associadas a esse ciclo e aquelas que caracterizaram os anos 70 não poderiam ser mais evidentes. Além do contraste nos movimentos distributivos, verificou-se a esperada tendência de elevação dos coeficientes de importação, mas dessa vez estiveram ausentes os esforços para contrabalançá-la via substituição de importações.

Desse modo, os pesquisadores interessados em compreender as condições econômicas do Rio Grande do Sul não podem prescindir de uma adequada compreensão dos principais movimentos em âmbitos nacional e internacional, bem como suas conexões com a economia regional. Neste momento, a economia brasileira parece voltar a depender de sua performance exportadora para novamente relaxar sua restrição externa ao crescimento. O papel e as perspectivas para as exportações primárias e industriais do Estado são tópicos tratados nesta primeira edição do Panorama Internacional FEE.

A partir de uma perspectiva internacionalista, o pesquisador Robson Valdez analisa o papel dos BRICS enquanto mercados efetivos e potenciais para as exportações estaduais. Na mesma postura propositiva, Bruno Jubran e Ricardo Leães tratam das perspectivas para um importante nexo industrial do Estado: as máquinas agrícolas. Entrevistado pelo Panorama, Luciano D’Andrea apresenta uma abrangente avaliação sobre as potencialidades das exportações do Rio Grande do Sul. Carlos Paiva nos traz alguns elementos de sua investigação sobre os coeficientes de importação associados às exportações e ao investimento enquanto categorias de demanda final. Fechando esta primeira edição, Clarissa Black enfatiza o caráter exógeno do preço da soja, notadamente uma variável central para o desempenho econômico do Rio Grande do Sul. A pesquisadora problematiza a ideia corrente de que a demanda chinesa seja o único determinante para os seus movimentos recentes.

[1]  FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA (RS). Análise da indústria de transformação no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: FEE, 1976. (25 anos de economia gaúcha, v. 4). Disponível em: <http://cdn.fee.tche.br/publicacoes/digitalizacao/25-anos-economia-gaucha/vol-4.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2015.